Não
ele apenas deu uma gota minúscula do que é estar do outro lado.
Não, o judeu não obrigará o alemão levar outro alemão para dentro de um forno crematório.
Não Fraulein,
ele o judenrat também não ficará brincando com a pistola estando diante de uma vala comum
com centenas de corpos .
O nazista vai andar a pé até algum gulag na Sibéria ou voltará pra sua Alemanha.
(depende do ano )
ele deve lembrar de Deus e sua santa suástica ,orar para que o oficial soviético e seus soldados
não tenha passado por aldeias onde mulheres e crianças russas, chacinados pelas ss
e a sua gloriosa werchmacht
sua esposa não será a lembrança de mulheres que já não existem mais. Nem a russa ou até mesmo a alemã. Que sorrirá com todos os lábios por um chocolate e um cigarro.
Passará o soldado Nibelungo murmurando que só cumpria ordens e se não tivesse cumprido, seria morto,
Ao som do Tropéu da Cavalgada das Valquírias um manto de vergonha foi o derradeiro legado de Hitler para a nação alemã.
As vísceras de Dresden e Berlin urram para os céus e não existe uma única fresta para respirar, para ressuscitar dos escombros, das cinzas de Wagner
O soviético tenta não ver vinte milhões de pais, mães, filhas, netos e mesmo assim, judeu que é, não mata o alemão e dá o seu rifle a um fantasma ,que aos poucos retorna do mundo dos mortos e esse alemão viverá para encontrar no meio dos escombros o que restou de luz nos olhos de sua família.
Bom, o oficial do campo e os ss devem estar dependurados dançando por aí enquanto os cossacos tocam harmônica e sua balalaica .
Guerra é arame farpado rasgando a alma , cortando sonhos e abrindo com a dor
outros olhos que jamais verão campos verdes e floridos até brotar alguma criança
no útero estéril de tanto levar chutes de sombras que invadem amanheceres,
uma gota de sangue molhando um sorriso no olhar. Olhos negros, castanhos,
azuis de sonho rasgados de esperanças suando pétalas numa flor tocando o lábio da amante,
esposa que espera no silêncio as sombras dos uivos vazios cansarem de açoitar .
Ela um dia será sol novamente ...
Nada do que é humano me é estranho.
Wilson Roberto Nogueira