I
Que corta e serra,
e jorra o sangue
que não se estanca
e espanta
No noticiário de logo cedo
de arremedo três tiros
perfuram as vísceras do sujeito
Imerso em meio
a linha de combate
II
a cidade se espreguiça, e boceja seu dia
a água ferve para mais um café
o que bonde trafega em direção...
o jornal é arremessado aos quintais
frescas as notícias de ontem
III
e se dissesse que tudo já foi dito e o resto é infinito e caos
e o nada já é matéria, o momento, o instante fugaz, agora para trás
e o mito já não é mais a caverna, mas a rua, o sangue escorrido
a morte morrida e estampada na primeira página,
a escorrer as vísceras já dilaceradas
e a vida consumida por um disparo
na arquitetura de pólvora e bala
e não há distinção de nada todos são todos, e cada é um,
o que havia era silêncios multiplicados a abismos e retissências
isso que corrói a alma, e a deixa cercada de espinhos numa paisagem perdida
e penso ainda que há algo de belo no trágico
Rafael Walter
Mini galeria de perguntas meramente retóricas
Há 18 horas
4 comentários:
"o verdadeiro poeta, diz sócrates, no Simpósio de Platão, deve ser trágico e cômico ao mesmo tempo, e toda a vida humana deve ser entendida como uma mistura de tragédia e comédia." Johan Huizinga, homo ludens, p.161.
a beleza do trágico está na vida que persiste :)
poesia é uma forma de resistência, anarquia.. caos e rebelião ao caos
"tudo é nada e tudo um sonho finge ser." (Fernando Pessoa)
"Abraxas" (Hermann Hesse)
em si, tudo somente poesia :)
Amei teu poema! Angela
Noticiário de sempre
I
Que corta e serra,
e jorra o sangue
que não se estanca
e espanta
No noticiário de logo cedo
três tiros de arremedo
perfuram as vísceras do sujeito
Imerso em meio
a linha de combate
II
a cidade se espreguiça, e boceja seu dia
a água ferve para mais um café
o que bonde trafega sem direção...
o jornal é arremessado aos quintais
frescas as notícias de ontem
III
e se dissesse que tudo já foi dito e o resto é infinito e caos
e o nada já é matéria, o momento, o instante fugaz, agora para trás
e o mito já não é mais a caverna, mas a rua, o sangue escorrido
a morte morrida e estampada na primeira página,
a escorrer as vísceras já dilaceradas
e a vida consumida por um disparo
na arquitetura de pólvora e bala
e não há distinção de nada todos são todos, e cada é um,
o que havia era silêncios multiplicados a abismos e retissências
isso que corrói a alma, e a deixa cercada de espinhos numa paisagem perdida
e penso ainda que há algo de belo no trágico
Rafael Walter
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