Pequeno pequeno pequeno. Mas já forceja de sol a sol o sísifo interior, das coisas ajuntadas e divididas por desrazão, em categorias. Taxônomo pré-mirim, compila selos sem ter selos e borboletas sem borboletas. Chora, para, sorri. Talvez seja o maior, e o menor, colecionador de coisas invisíveis em todo o universo. Leiloou na imaginação a vai adquirindo: marafonas que falam, trapos de nuvens, armas para a guerra aos irmãos, namoradas das folhas de revistas, monstros de césio, roupas ideais das matinês de carnavais, aves marias aos domingos, cães de montaria, cantigas de dormir, desaforos, ouro do nariz, frieiras e verrugas, formigas e apocalipses, trevos estrelas urtigas, lençóis floridos, bichos sob a cama, pedras de rios que não passaram, olhares sem piscar pelo buracos de fechadura. Coleciona os dias, um maior que o outro, um mais novo que o outro, mais bonito.
A mãe chama para o jantar. Ele não vai. Não pode perder a conta de seu tesouro. A mesada foi toda gasta em balas-chiclete e, mastigando, trabalha o raciocínio: "...um dia vai valer uma fortuna. Vou trocar por um baú de moedas. Vou enterrar numa ilha deserta. Vou fazer um mapa". Não atina com a possibilidade de perder, mais do que os álbuns da coleção, perdidos em si, o ânimo de colecionar impossibilidades.
Certamente vale muito, certamente só dá para isso: os olhinhos acesos no rosto do homem, e uma saudade que atravessa a rua.
Rodrigo Madeira
publicado no segundo livro de Rodrigo Madeira [pássaro ruim]. Curitiba: Medusa, 2009, pág 140
publicado no segundo livro de Rodrigo Madeira [pássaro ruim]. Curitiba: Medusa, 2009, pág 140
2 comentários:
postado dia 1. 11. 11 as 12: 12!!!!!
e há certas correntes literárias que dizem não haver prosa poética!!!
Postar um comentário