domingo, 1 de maio de 2011

quando a humanidade inventou o globo terrestre

Vou seguir o caminho dos poetas:
Farei de minha coluna linda flauta
E das tripas farei uma guitarra
Em cálice meu crânio se fará!
Estranharei qualquer essência humana
Daqueles miradores tão arcaicos
Que achavam que as estrelas eram furos
Num grande véu tecido pelos deuses.

Os antigos olhavam o horizonte
Mais se andava, mas nunca se chegava
A lugar nenhum. Linha reta avante.
Talvez nalgum lugar um precipício,
Nas lendas de lugares tão distantes.
Mas a vela e a pólvora fizeram
Conquistas para além do imaginável.
A humanidade deu a grande volta
Em todo mar e terra que se pôde.
Não há lugar tão longe não passado,
Nem terra não pisada, e também água
Alguma sem se navegar.

Então, chegou o momento insuportável
Em que o mundo virou mais uma coisa,
A terra virou outra, a natureza,
Estranha, dominada pelos homens.
Tudo se sabia.
Era conhecido.
Derrotado o dragão,
Inimigo vencido.

Vejamos, pois, esse objeto estranho
E então fizeram máquinas do espaço
A fim de sentar no assento estelar
Para enfim admirar o que ninguém jamais viu.

Ao primeiro a chegar assim tão alto
Perguntaram milhares, encantados,
Como ela é, me diga, aí de cima?
É deslumbrante? Incrível? Será linda?

E respondeu o cosmonauta Yuri,
Assim, materialisticamente:

- A Terra é azul e eu não vi nenhum Deus!

A bordo do Vostok
O camarada russo
Despencou de além da órbita
E chegou onde nenhum chegara
Ele levou a nação proletária
Às alturas dos livros de história

O momento eternizou-se
Era a separação mais completa
Do ser humano com o mundo
Sua terra
Por meio da guerra
Conquistada no fogo da foice

O nome Terra, o nome Mundo, o nome Planeta
Mas só depois de o ver de longe é que o chamamos:
Globo
Esfera

Conquistar a Lua é estender a mão àquilo que se vê todo dia
Colegas americanos
Que covardia
Mais uma mercadoria
Vitória de verdade é romper com a monotonia da raça
Que só tem uma natureza:
A de sempre quebrar sua própria mania
Negar em constante a dinastia dos genes
E um filho de camponês foi o primeiro
Foi o único
A admirar a imagem
Que hoje rezam nos banners os pagens da gente

Planeta dos macacos

Globo dos seres humanos

Viva a nação proletária
Invertendo o conto dos anos

A terra foi inventada
Por um camponês que sonhou
Por uma bandeira vermelha
Que na história pregou uma frase
Com o pesado martelo da classe

Nesse momento nos vimos
Destinos estranhos de nós
Nossa casa nos foi alienada
Somos o Outro
Perdemos a voz
Façamos foguetes
Marchas, rondós
Pra saudar a conquista
Cantar a desgraça
A natureza morreu
E o mundo lacrimeja
Humanidade nasceu
Voe e veja!

Aquele mar e terra dominado
E as caras molduradas no redondo
Composturas estelares e o éter
Humanidades puras repletas
Purpurinas modernistas
Do futuro proleta-planeta

- A gente é vermelha

- A terra é azul




 YURI CAMPAGNARO 

3 comentários:

Anônimo disse...

Gostei deveras !

Anônimo disse...

Se não fosse o camarada Korolev, Yuri não chegaria as alturas e a URSS não olharia os capitalistas de tão alto !Korolev comeu o pão que o Koba amassou , mas como disciplinado comunista teve reconhecido seu trabalho...ou não ?
A Frase é atribuída a ele, não que ele tenha de fato proferido.Pode ter sido colocada na boca do cosmonauta por algum jornal capitalista para acentuar seu suposto ateísmo.

Ivan disse...

EM RESPOSTA A COMENTÁRIOS E EM FESTA A UM POEMA DE UM CAMARADA

Azul, vermelha ou branca,
Francesa, ianque ou russa,
Nonada disso estanca,
Mas nem que a vaca tussa,

Se disse o cosmonauta
Ou disse o Korolev,
Ou fauno à sua flauta:
A lua segue leve,

E o fato é que um poeta
Compôs mais uma seta:
Que a todos ela fure

Feito esta festa vã
Do camarada Ivan
Ao camarada Yuri.