algo que sempre pensava, a essa hora do dia, em que o silêncio tangia os raios da aurora, e vagarosamente as luzes em chamas se acendiam, como um porque, um avante do caos operante, a razão daquilo que nem se lembrava, mas seguia, caso as vielas não fossem feitas de sujeira juro que me sentava ali, mas o tempo era pouco, e o assunto denso, de quilômetros, outro falava de um tempo de uma vida, que não se conta no relógio nem se mede por méritos ou propriedades, era aquilo então, o viver que gozava da morte, essa dama que anda de mãos dadas com a vida.
havia sim uma esperança, que não estava na capa dos jornais nem de nenhuma revista periódica de auto-ajuda, consistia em enxergar o passo adiante, os trilhos, que algum sentido tinham, além de abismo − feito de quedas.
motivos o suficiente para aquilo do desencontro, da desmedida, insuficiente o mundo: tamanha ânsia que consumia do dedão do pé ao último fio de cabelo. ser ou não ser não era mais a questão, nesses tempos difíceis de propriedade, chega a ser indecente propor de ficarmos nus como viemos ao mundo, sem um centavo no bolso...
lembra daquela noite, em que os ventos saudaram nossa solidão colossal. gentes sobravam por entre as frestas − e daquela tarde na beira da estrada que alguns diziam: não vou posso carona, veja o cachorro da madame que ocupa três bancos. combustível é pulmão para gritar bem alto nessas horas. e dizer estou vivo, mais que um número.
de qualquer maneira as curvas tinham vida, ainda que empalidecidas pela distância, o verde não era o de sempre, renovava-se como aquilo que chamavam de esperança. mas que esperavam, algum trem do além? ou um disco voador que pousasse no centro do umbigo e dali surgisse um marciano e dissesse: vamos embarcar nessa. naufrágio nas estrelas, lençóis de mar, cama de areia, teto de absoluto.
Rafael Walter
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