Na calçada caminhavam duas grávidas uma a conduzir um
carrinho de bebe, outra carregando uma criança. O sol mordia-lhes de cansaço
até que elas encontraram um burguês vestindo roupas surradas aparentando
estarem enlutadas de tanto desmazelo; segurava uma pasta e um guarda chuva
desconfiado dos humores bipolares do clima curiovano. A mulher que conduzia o
carrinho pediu um dinheiro para que pudessem se alimentar, ela contou que veio
de Ponta Fina e não tinha um vintém
sequer. Como era conterrâneo o polaco não pestanejou e deu uma onça que
certamente se fartou com a fome das duas mais as crias.
Passou um quarteirão e o interiorano seguia arrastando sua
corcunda e sua gravidez de três meses de
cerveja sob o bafo da manhã, manhã que se perdera do Rio de Janeiro e tropicou
por essas quebradas. Ao contrário de outros dias já falecidos na memória
(visitas do Alemão nefando!) caminhava feliz pois acredita-se Deus oportunizara
o cidadão a estar limpando de impurezas o dinheiro que amealhava na corrida de
pangarés. Tão alheio que ao cruzar a canaleta do expresso quase desviveu se
espalhando no asfalto ondeado mas naquele zaz o anjo da guarda mostrou ser fura
grave.
Ali mais adiante uma casal de carrinheiros passava ao largo;
ele o cavalo vapor conduzia a carroça que era um Empire State de caixas papelão
e outros que-tais recicláveis. A senhora de olhos verdes que eram tão brancos
que parece ter engolido todas as cores numa luz intensa de força e fé andava na
calçada a cada passeio mais pergaminosa de tanta estória largada.Mais nós
abrimos a conversação falando das modernidades em termos de carrinho de
lixo,digo de bens reaproveitáveis. Os pneus de borracha, a estrutura mais leve,
tudo pensando na capacidade de se acumularem mais valia.Exploração arretada. O
valor da força de trabalho , sempre subvalorizada caindo no bolso de quem dá de
comer as hemorróidas. É o polaco era comuna.
A mulher pediu umas moedas para inteirar o dinheiro para que
pudessem comprar comida. Não tendo mais papel moeda aceitaram ir até um posto de
gasolina onde a loja de conveniência possuía um terminal bancário.Lá chegando
encontraram algumas caixas de papelão estocadas as quais puderam pegar. Ela
disse que esperaria enquanto o cidadão sacava do caixa o sagui ou mico leão um
macaco desses fez e entregou para ela que se derramou em desejos de bem
aventuranças ao caipora, digo caipira..
O burguês ridículo que tropeçara na bondade, sentira-se mais
leve andando de galochas nas calçadas de poças ocultas nas pedras mal colocadas
da cidade,a qual esqueceu seu charme cinza de seus urbanóides escondidos em
seus guarda chuvas cortando o ar a facadas. O polaco velho guardou sóis em seu
coração no sorriso daquelas gentes simples.
Valeu viver mais um dia.
Wilson Roberto Nogueira
Nenhum comentário:
Postar um comentário