quinta-feira, 25 de julho de 2013

carta aberta

farei minha casa de árvore
no bonsai.

janeleira como olhos,
buliçosa,
a araucária cujos galhos
serão verdes cobras...

mas o veneno será todo meu.

vou contente,
saio sem nove horas.
vou lavar minhas únicas roupas
nos arroios da saliva,
quará-las à luz da lua.

farei minha casa de árvore
no bonsai.

amarelecida de fruta-cor e mijo,
a página,
a língua que lhe falta,
indaga-se:
– onde estás? onde estás,
tu que sangravas tanto?

escreva-me de mim o que
quiseres, página,
não me ouço mais!
assino-te em branco,
fundo tuas margens
num fio de catástrofe.
as palavras já são calhaus.

longe, fui colher insetos
                    através da noite

e afio minha faca no orvalho.


Rodrigo Madeira

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