quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

A criança de pernas vesgas

Ao longe, e se aproximando, escutava-se um metal ferindo o chão de madeira numa cadência de passos inseguros.

Quem estava vindo era uma criança de pernas adornadas com um aparelho que parecia ter sido resgatado da Idade Média e que prometia endireitar aquelas pernas vesgas.

A criança tinha, talvez, cinco ou seis anos, e caminhava por uma sala de jantar infinita.

Nela havia uma mesa azul faminta, com panelas vazias e pratos vorazes por uma colherada de comida.

Na amplidão daquela sala, que tocava o horizonte, a criança sentia que não estava só, que havia mais alguém ali. Mas a criança, míope, via apenas olhares, e os olhares não tinham face... apenas olhares!



Felipe Alberti

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