a)
parafuso
não de rosca soberba
para chapas de metal.
segurou quadros? fixou
sextavado o esqueleto da cama?
emprenhou porcas, coadjuvou
dobradiças e roldanas?
um tendão de aço
que não vale
nada sobre nada
existirá
sem qualquer bênção de deus
centenas de anos
b)
skol cerveja pilsen
beijou os lábios da mulher
no verão de 85?
no verão de 85?
esta veio dar na praia
as axilas do tétano
as axilas do tétano
cheiram a ferro de sangue.
quando o sol bate
no último cm²
brunido e intato
da folha-de-flandres
brilha mais que diamante
c)
quem já viu
um arpão
oxidado
no meio
de uma cidade
sem praias?
d)
o quarto objeto
é um poema.
não costumam ser
inventariados em capões
ou ferros-velhos
comidos de ferrugem
os poemas.
mas ninguém o leu
ninguém
sequer o escreveu
baldio
sem o que ter sido ou dito
ninguém diz:
um poema!
mais agora
que a lepra
do metal o faz
– no chão vermelho
ervas rasteiras do alfabeto –
ainda mais patético
e ilegível
Rodrigo Madeira
3 comentários:
& que esta ferrugem exalada do poema carregue um vírus nascido em 1789, um vírus que, adormecido, esperou que o fim fosse anunciado. que ele torne os homens em inúteis, porém sonhadores.
e há tempos há ferrugem nos sorrisos e só o acaso estende os braços a quem procura abrigo e proteção
o poema está supercalifragilistic espiralidoucious
n.
Pó, teias e ferrugem? Pode ser, mas eu gostei!
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