como sou autor e gosto de tontarias,
como nada o obriga, ó cioso leitor,
a me emprestar seus olhos e tudo
pode vir a ser um jogo
de ombros, muxoxo, fechar de livro,
decido me arriscar nestes e noutros
instantes precários (escadas de vertigem).
suponha que haja
enxames de segundos,
que seja a nascença do seguinte
a morte de um segundo na corrente ininterrupta...
suponha um enxame de segundos
(vivo e mortos, mas somados)
no favo melífluo de uma hora; agora
suponha que dos favos colaborados
tenhamos a abstrata colmeia, o dia,
um único e precioso dia.
tudo pra que eu ou você, com um cajado,
cutuquemos e deitemos por terra.
tudo pra que eu ou você arranquemos
nacos, lambamos e deixemos o resto
atrás da horda de dedos e dentes, largados
e depois voltemos, no último ônibus da última linha,
para os arrabaldes.
Rodrigo Madeira