Antes de fugir deixou ou as calças de brim do marido bem lavadas. Penduradas no varal pareciam fantasmas incompletos ensaiando incompleto adeus. Voltou. Arrependimento não mata ninguém, ouvira falar da vizinha que sabia tecer a filosofia do bom senso. Entrou pelo pátio dos fundos para ganhar fôlego e arrumar as idéias. Os presentes eram pequenos e bem selecionados.Um para cada filho com embrulho azul. Um para cada filha com embrulho rosa. Era tempo de perdoar até marido e sem querer olhou para o varal. As calças de brim estavam lá. Tal como as havia pendurado três anos atrás. Nos bolsos, os passarinhos construíram perfeitos ninhos. Tempo de presépios, pensou. E de nascimentos delicados. Pequenos ovos derramavam vidas.
Glória Kirinus
(Cultura G. Gazeta do Povo. dom, 191204. p7 )
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