A vida me persegue com seus timbres
Roucas vozes do acontecimento;
Nada me amedronta mais
Que a face intacta das coisas.
Tomo de açoite o banquete das rosas
Oásis de brancura estendem-se
Em escarlates ensandecidos
De-lírios à veia acesa.
Restam desertos
Que o sol, tresloucado
Chama de poemas.
A areia arranha o silêncio do pêlo e sua
Mistura de sal no sentido da pele
Perduram águas.
À sina de mim
Amálgamas vertem suas misturas
Que a pureza dos olhos
Chama pássaros
Circundam o mel do corpo
Venta, na eriçada
Flor do ventre.
Roberta Tostes Daniel
Um comentário:
Lapsos de consciência e libido verdes da cor do mar poluído dos sentidos pós-modernos. Reivindicar a subjetividade é o primeiro passo para a criatividade única se instaurar numa produção madura ao nível do sentimento a ser comunicado. A psicanálise da arte aponta o amor como a droga de todas as percepções da alma e do corpo. Envolto de trevas e luz que remetem a existência à metafísica e ontologia. O princípio dionisíaco é evidente e o apolíneo anuncia-se na lira como cadência, forma e conteúdo. É perigosa a subjetividade, no entanto, na dimensão do patológico que todos carregamos. Tentamos em vão transmutar os defeitos em palavras estéticas que convençam o leitor. O que realmente queremos com isso? Momentos de prazer na leitura.
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