o momento do dia mais esperado vem chegando. devagar, concentrado e calmo. como se todas as formas caissem no sono. em cores. a tarde dita o ritmo de muitas pessoas. os tubos de ônibus cheios. abarrotados. uma centopéia de filas quilométricas. cortando esquinas. trânsito engarrafado. na calçada, os passos lentos da velha senhora decrépita que carrega o cachorro como um filho. ao redor de dentro da gente, um mundo. a panificadora com o pãozinho fresco a espera pelo cliente. quatro francês, bem branquinhos. o eterno retorno de chegar em casa. passar o fiel café que não reclama. tocar, no velho aparelho de discos, uma partitura doméstica. percorrer novos labirintos pelos quarenta e seis metros quadrados. novas perspectivas que se esvaem na porta do quarto. quem bate? nada transcende. dizer - sim! -bobagens que. mas pingar, antes do noturno, uma poesia em cada retina. caminhar os pés descalços até o limite da cama. deitar a cabeça suavemente no macio travesseiro. suspirar - que fundo - um acabado. e deixar que as pálpebras - shhhh! que dorme - encerrem o cotidiano teatro de sua vida.
Giuliano Gimenez
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