segunda-feira, 10 de maio de 2010

Arte-nada

para o niilimundo deste vacuotempo


e na posse de barack obama no youtube:
it’s my pleasure to introduce a unique musical performance
mr. itzhak perlman violinist
anthony mcgill clarinetist
yo-yo ma cellist
and gabriela montero pianist
performing air and simple gifts
a composition arranged for this occasion by john williams
notáveis músicos terceira via
pop top chords perlman e yo-yo ma
mcgill clarijazznetista bernstein-erudito
gabriela montero divinichavista das improvisações impossíveis
de el sistema de la orquestra juvenil simón bolívar
john williams milli grammy-oscares como válter disney
compositores-mores da kitchclássica música sinfoniúnica de hollywood

1 franco-chinês 2 israelo-estadunidense
3 mulher sul-americana 4 afro-descendente
5 composição tradicional
6 com arranjo w.a.s.p.

que diferença faz? ganhar dopado ou limpo
tocar por um playback ou dar concerto ao vivo?
nihil vanilli itzhak milli perlman dudamel barenboim
miles de niilis: unique musical performance for this occasion

a tese deste texto: no capitalismo do fim da história
a crescente contradição entre o desenvolvimento das forças produtivas
e as relações sociais de produção
tem na arte oficial do nada sua pulsão preferencial

É como se disséssemos:

Vamos trabalhar para resolver as carências humanas
e libertar a todos e todas do jugo do trabalho alienado?
E nos dissessem, Não, tem uma idéia melhor:
vamos construir um estádio gigantesco
e chamar 90 mil pessoas ao vivo
e dois bilhões pela televisão e um bilhão pela internet
para ver quem dá mais voltas em menos tempo
em torno de uma pista de atletismo!

Como se fosse, Vamos nos organizar e resolver as carência do tempo
para eliminar o trabalho alienado?
E nos dissessem, Não, tem uma idéia melhor
Vamos tocar violino, passar longos e penosos anos aprendendo
a tocar violino a dançar na ponta dos pés a ser virtuose em qualquer negócio
– Mas Por quê?
                            – Por quê? Porque, porque faz bem ao espííírito.


E sabe por que você é assim? Por que se sente
tão angustiado? Não é por causa do trabalho alienado é
porque você pratica pouco sexo, quem não transa com ninguém
não pode mesmo estar passando bem

Você está assim é porque não viaja!
Por que você não pega o carro ou passa
numa agência de turismo ou compra
uma passagem de avião ou entra
numa excursão e vai daqui até ali                   e volta!

– Mas por quê?

                                 – Por quê? Porque, porque é liiindo.


O mundo há muito tempo está maduro
Forças produtivas suficientemente desenvolvidas
desde aquele espectro que rondava a Europa
O capitalismo intenta ser o fim da história
trava a roda da história não quer que as relações sociais sigam seu curso
Fukuyama diz que tudo acabou em 1806
– e quem sou eu pra desdizer de Fukuyama –
desde a 1ª metade do século 19 como frisa o Manifesto Comunista
o mundo é palco pleno para o socialismo
e desde então : história-nada , vacuotempo , cronoaniquilamento
forças produtivas que já têm o necessário
para superar o trabalho
mas este se mantém somente porque são ainda como são
as relações sociais de produção

e qual é então a arte que melhor se encaixa
neste vacuotempo niilimundo?
Beuys, Beuys, meus boys, ele é que entendeu a coisa
Beuys – a própria biografia um blefe
Pergunta Kant: isto é belo?
Mas depois de Beuys ninguém se espante se também se diz, pois isto é arte?
Feltros, gordura e feltros
How to Explain Pictures to a Dead Hare (1965)
horas com chapéu de veludo e luvas de boxe
a explicar destarte, cara lebre morta,
o porquê da morte desta nobre arte
I like America and America likes me (1974),
da Alemanha para cinco dias
                                              junto de um coiote
na pequena sala da galeria
                                              Rene Block em Nova York

à sombra das Torres Gêmeas que serão escombros
A Dokumenta de Kassel
O quilômetro vertical de Walter de Maria
um cabo com 1000 m de metal enfiados na terra
O apartamento cheio de areia que o mesmo de Maria
mantém em Manhattan, segundo se relata,
que precisa ser cuidado, aguado, a areia mantida saudável
e aquele alemão, hein, que enterrou um poste, não foi mesmo
e aquele outro que fotografou e arquivou os filmes nunca revelados, dizem
– isto é arte? – e da melhor qualidade

A explícita poética do nada de John Cage
“em 4’33’’ (1952)
um pianista entra no palco
toma a postura de quem vai tocar
e não toca nada
a música é feita pela tosse
o riso e os protestos do público
incapaz de curtir quatro minutos e alguns segundos de
silêncio” Augusto de Campos, O anticrítico, p. 218

Beethoven, Mozart, Shakespeare, Camões não foram a seu tempo
em si mesmos arte-níquel expressão do nada
Corresponderam por exemplo à visão de mundo da aristocracia
ou da burguesia ascendente
ou da aristocracia que se queria parte do mundo burguês novidominante
ou ao modo cortesão de flertar as mulheres e
angariar favores nacionalistas do rei

O que quer que seja
eram a seu tempo formas de expressão de alguma qualquer coisa
A forma-mercadoria
contudo
esvazia seu sentido

Já não expressam nada mais de relevante
Portinari como piso para revestimento de interiores
Picasso como carro Citröen
Mozart for babies
A forma-mercadoria – totalidade
que se sobrepõe à idéia ingênua elitista enganosa aristocrática de arte

Para Keynes a arte em nosso tempo tem
a mesma função que a guerra:
destruir inutilizar paralisar forças produtivas

E se a arte já não cumpre mais
qualquer função efetiva de representação social
E se a arte é reduzida à mera função keynesiana
de imobilização de forças produtivas e entretenimento
E se ela tornou-se vazia de qualquer sentido real
Melhor é ir então direto ao ponto,
melhor fazermos logo Arte do Nada
Para que perder tempo anos e anos aprendendo violino
representando Shakespeare
ofícios cansativos e complexos
Melhor é fazer logo qualquer coisa, fazer o nada dá na mesma
o mote que o capitalismo of’rece à arte
se cumpre rigorosamente com a mesma sorte
seja pelo mais virtuoso dos malabaristas
seja pelo mais vistoso acaso artista-nada

Mas

se a arte de Beuys conceitual Arte-Nada
é a melhor representação do nosso tempo
– o Tempo do Nada do Fim da História –
também se torna cínica adesão ao sistema e se conforma
Ícone, duplo, interpretante do mundo do nada
passa pela prova de ser ela própria
o mesmo cínico signo nada
deste cronovácuo
niilitempo
o sentido da arte : seu caráter militante
cartazes de gustavot diaz → objetos que perseguem militância
sem isto trabalho e tédio
esclesiástico-haroldianamente névoa-nada e fome-vento:
confinados na opressão do trabalho
escravos das múltiplas formas deste nada que nos toma

À questão, pois:
Invertido seu sentido
todavia
a arte conceitual a arte-nada
dialeticamente seria a arte da transformação do tempo

a arte do nada-tudo,
do tudo pelo nada enfim liberto do nada que o comprime


Paulo Bearzoti Filho

poema extraído da Revista Panfleto! número 1

10 comentários:

Anônimo disse...

Músicos tocaram música pré-gravada na posse de Obama


Os organizadores da posse do presidente dos Estados Unidos revelaram que quem assistiu a um quarteto de músicos que se apresentou no evento não ouviu amplificada a música que eles tocaram ao vivo, e sim uma gravação. O violoncelista Yo-Yo Ma, o violinista Itzhak Perlman, a pianista Gabrie-la Montero e o clarinetista Anthony McGill haviam gravado no domingo a peça Air and Simple Gifts, de John Williams, que foi executada por eles na posse, na terça-feira.
O frio torna mais provável que as cordas de instrumentos musicais estourem durante a execução. Por isso, por segurança, os or-ganizadores e os músicos decidiram tocar a gravação nos alto-falantes, embora os mú-sicos tenham de fato tocado seus instru-mentos na posse.
"Ninguém está tentando enganar nin-guém", disse Florman. "Não é algo que nós anunciaríamos publicamente, mas não é algo que nós tentaríamos esconder."

"Não é como o Milli Vanilli", acrescentou, fazendo referência a uma dupla de cantores que fez muito sucesso nos anos 80 e chegou a ganhar o prêmio Grammy em 1990, antes que viesse a público que eles na verdade não cantavam, só dublavam suas canções.


http://ultimosegundo.ig.com.br

(nota do autor)

Anônimo disse...

Com o passar do tempo, o desenvolvimento das forças produtivas, os ganhos de produtividade do trabalho, o surgimento de nossas técnicas, máquinas e tecnologias, e o próprio acúmulo em si do saber e do esforço, com o passar do tempo a produção de bens aumenta, o tempo para sua produção diminui.

Monetariamente diríamos que esse aumento da produção leva à diminuição do preço unitário, ou seja, os ganhos de produtividade geram deflação. Se o processo fosse deixado “à sua deriva”, os produtos seriam tantos e teriam tal qualidade que, por assim dizer, todos poderiam ter de tudo.

É claro, contudo, que a corrente se quebra antes disso.

É o momento da crise, negada pelo raciocínio equilibricionista da ideologia, mas constantemente afirmado pelos fatos, quando o desenvolvimento das forças produtivas encontra seu limite nas relações sociais de produção.

A estabilidade, porém, é uma característica do sistema feudal, não do capitalismo, que precisa sempre crescer. A questão, então, é: como manter o crescimento das forças produtivas sem correr o risco de dividir riqueza sem pôr em risco a existência mesma da sociedade de classes? Administrar o capitalismo é fundamentalmente lidar com esse problema vital.

Em 1919, John Maynard Keynes escreveu sobre as conseqüências econômicas da paz. Diga-me lá: quando houve pleno emprego no século 20 – pois houve pleno emprego no século 20. Durante as guerras mundiais, observa Keynes. O soldado é um trabalhador. Do setor destrutivo, é verdade, mas trabalhador assim mesmo. O soldado morre, mas morre empregado.

Como conseguir tamanha estabilidade em tempos de paz?


(nota do autor)

Anônimo disse...

O fundamental são os investimentos privado-estatais improdutivos, e entre eles, inclusive, os gastos com educação e cultura. Milagre: o aprimoramento do sistema privado-estatal de fomento às artes, à cultura e à educação não só seria justo como justificado do ponto de vista econômico. Keynes finalmente unia o útil e o agradável, o dever e o prazer, a ética e a racionalidade.

Mas note bem: escola keynesiana, arte e cultura keynesiana não correspondem, fique claro, à efetiva socialização do conhecimento e dos bens culturais. Sua finalidade, como dissemos, é o incremento dos gastos privado-estatais improdutivos como meio de conter a tendência deflacionária do sistema como um todo. Difundir ciência e cultura verdadeira, socializar conhecimento de fato corresponderia, justamente, a desenvolver ainda mais as forças produtivas, estimulando a tendência que se busca combater.


As relações capitalistas se apoderam dos produtos da cultura, desenvolvem sua reprodutibilidade necessária para que eles assumam a forma de não-mercadoria1, percam sua “aura”, se laicizem e vulgarizem. (…)

O capitalismo transforma os produtos culturais em não-mercadorias, na “era de sua reprodutibilidade técnica”. Não-meios de produção e não-meios de consumo, os sons, as imagens, as cores, os sinais constituem os objetos transportados e vendidos que impedem os consumidores de pensar e agir, paralisam-nos e, acima de tudo, nascem, vivem e morrem sem alterarem as forças produtivas.

O capitalismo, cujas contas nacinais são tão vulgares e enganosas quanto sua estética, considera como acréscimo do PIB a produção bélica, a venda de sangue, de retina, de rins, as receitas dos motéis e prostíbulos, onde o sexo se transforma em não-mercadoria; as despesas com expedições interplanetárias, as rendas provenientes do turismo, que enriquecem os gigolôs dos monumentos históricos e da natureza privilegiada, etc.

Desviando-se da produção de valores de uso, de produtos úteis, o capitalismo transforma tudo em “produção” – desde que dê lucro – os cursos de língua (a fala), o canto, a dança, a ginástica, a sauna, o sexo (as revistas de sexo, os vídeos de sexo, os motéis, etc.), os cursos de boas-maneiras, a psicanálise de cachorros, etc. Tudo assume o caráter de “natural”, de produto necessário, fino e útil.


CAMPOS, Lauro. A crise completa.

São Paulo: Boitempo, 2001, pp. 142-3.

(nota do autor)

Anônimo disse...

O esporte, então, é a área da cultura onde isso se dá de maneira mais clara. Ficamos lá observando um campeonato sem fim que se renova e se mantém sempre o mesmo ano após ano, corredores, ciclistas e automóveis a dar voltas numa pista, virar piscinas, cruzar barreiras, dar infindos rodopios em torno ao próprio corpo, fabulosa recirculação do nada.


(nota do autor)

Anônimo disse...

Um dos trabalhos mais famosos de Kosuth é “One and three chairs”, uma expressão visual do conceito de Platão das formas. A peça caracteriza uma cadeira física, uma fotografia dessa cadeira, e o texto de uma definição de dicionário da palavra “cadeira”. A fotografia é uma representação da cadeira real situada no assoalho, no primeiro plano do trabalho de arte. A definição, afixada na mesma parede que a fotografia, delineia nas palavras o conceito do que é cadeira, e nas suas várias encarnações. Nesta e outra, trabalhos similares, Cinco palavras no néon azul e vidro um e três, Kosuth envia as indicações tautologicais, onde os trabalhos são literalmente o que dizem que são.


(nota do autor)

Anônimo disse...

1 Um ponto sutil. O Manifesto Comunista já observa a mercantilização da arte. Fonte essencialmente de lucro, a arte perde seu “sentido”, em virtude da forma-mercadoria que adquire. Mas mesmo isso representava, dialeticamente, certa ameaça ao capital. Circulando como mercadoria, a arte e a cultura, embora mercantilizadas, podem disseminar-se largamente, o que guarda em si certo princípio ou possibilidade de assumir algum caráter contestatário. O problema, como vimos, é desenvolver as forças produtivas sem distribuir riqueza. Pós-1929 surge aqui um dado novo. Lauro Campos é quem eu li que disse isso. Só ele, parece. E quase ninguém lê, também é forçoso dizer. Os investimentos privado-estatais improdutivos, que não desenvolvem as forças produtivas, embora adquiram expressão monetária, correspondem não exatamente a “mercadorias”, mas a “não-mercadorias”. Algo que Marx e Engels não puderam analisar, pois o capitalismo de seu tempo não apresentava o fenômeno de forma completa. Para lá, portanto, da mercantilização da arte, o capitalismo keynesiano abre a era da não-mercantilização monetarizada da arte. Entre nós, o próprio recurso comum ao financiamento dos produtos ditos culturais por meio de variadas formas de incentivo fiscal, ou seja, o fato de que esses tais produtos culturais não têm viabilidade econômica no sistema do capital, indicam que, mais do que mercadorias, assumem agora uma forma ainda mais degradada, como produto que são do gasto privado-estatal improdutivo cuja vocação monetária única é produzir inflação e, com isso, combater o impulso deflacionário deflagrado pelo desenvolvimento das forças produtivas, a lei da queda tendencial da taxa de lucro.

(nota do autor)

Anônimo disse...

Paulo Bearzoti Filho, poeta e professor de Língua Portuguesa, é Presidente Municipal do PSOL/CTBA

rodrigo madeira disse...

paulo, creio que o objetivo das leis de incentivo à cultura não é conter a deflação. seria muita pretensão dessas tais "não-mercadorias" (ai, como eu gosto dos frankfurtianos!).

é um valor, em termos relativos, irrisório (de cafezinho macroeconômico), incapaz de produzir impacto mais significativo. o minc investe, direta e indiretamente, pouco mais de um bilhão de reais em produções culturais, ou seja, nada se comparado ao pib em 2009 - 3,143 trilhões de reais.

os incentivos à cultura estão aí (esquizofrenicamente, como tudo no brasil)para permitir que existam obras que de outra forma não existiriam e, claro, para que o clientelismo e a corrupção tenham mais um balcão de negócios...

neste ano fiscal de 2010, o que se vê é exatamente o contrário: o aumento um pouco preocupante da inflação (de novo, não por conta das leis de incentivo, relativamente irrisórias), mas sim, entre outras coisas, pelo excessivo aparelhamento da máquina pública na gestão do pt, o populismo de repartição...

rodrigo.

... disse...

Viagem mais, façam mais sexo...Dialéticas,ideologias,comunologias,putoquepariulogias...Tenho a impressão que certos discursos tornam ainda mais vazios os "conceitos" discutidos,(e pq eu to aqui aumentando o vazio?), quem se preocupa com "definições" perde o seu tempo produtivo, são tantos artistas e quase nenhuma arte, são tantos escritores e quase nenhuma literatura, tantos músicos e quase nenhuma música, só ruídos e mais ruídos,uma colagem pobre...Representa bem o espirito do inicio do sec. 21...Muito barulho por nada, é tanto vazio pra encher que tá tendo concurso pra Vacuo

Anônimo disse...

Esse Teodorico demonstrou ignorância. Deve ser autor de poemas toscos louvando uma subjetividade vazia. Bom vacuotempo pra você!