Algumas cenas eu imaginei no momento do descarte. Outras, eu criei, no exato segundo onde o rompimento foi real, como aquela bolha de chiclete que estourava enquanto as lágrimas escorriam, na sala toda azul. Sentada na poltrona, sem recuar nenhum passo, eu bolinava com os olhos o rancor que sentia do futuro, o aguardar, o engolir e o plainar.
NAQUELA cena onde estávamos, aos berros silenciosos, jogando cadeiras e mesas pro alto, quis rir e dizer pra você que era um sonho e colocar a sua estátua bem no meio do nosso jardim, cheio de peixes que saltam no outono e borboletas que só afundam… Eu pensava que era a luz que ofuscava tudo, e só uma fresta escorria pela janela e me subia pela garganta e enjaulava todo o resto, mas depois percebi com calma, que todas as entonações que você usava eram opostas.
E quis dizer, depois da inquietude, que agora quem precisava e queria chorar de verdade era eu, porque o disfarce havia caído e, na grama, estávamos sozinhas, colhendo frutos de um verdadeiro crânio que martela: oco. Mas, ainda na sala, a luz se mistura com fumaça, que se mistura com cinza e depois alguma coisa consegue se desprender, alguma resposta fica no ar e espera a arrebentação gigante, como um fluir pelo rosto que, por acaso, está fragilizado e estático como um Depois.
Juliana Vallim
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