há esta menina que me espera impaciente. o corpo de terremoto adiado. como uma revoada de vespas, sorri - talvez o sorriso que monalisa não pôde. será uma fúria? diz coisas na língua das flores, quase se faz entender, prestes a traduzí-la, e súbito, põe-se a falar na língua franca dos peixes de águas fundas. Espero a fio, o dia em que me deixará, sem esboçar sequer o arco-íris. Nas tardes de verão me arrasta pelo braço, ao redor de galerias, como uma enchente ou um carnaval de rua; e á noite, sob meu corpo, mais molhada que de manhã cedinho, secreta um orvalho ácido que inaugura por dentro os dias.
de repente a menina de antes que eu nunca vira: respiração monótona, incapaz de comoções e ventos, sua presença de passarinho morto, o vulcão já extinto, as mãos abertas, a língua que é a minha, os olhos que perderam aquele brilho da bomba, a especiosa nudez, ora desenganada, sem trás-dos-montes, sem morte na esquina, sem horizontes de abandono, sem caminhos de sustos, sem esfinge na encruzilhada das pernas.
crisálida de trás pra frente, observo-a pela primeira - última - vez... vesti-me e ganho a rua sem fazer barulho ou lágrimas. a aurora será sempre um acontecimento.
3 comentários:
Finalmente um texto em prosa. E de um autor que presa a norma culta da língua!Parabéns!Um texto de qualidade.
Ô bode preto,preste atenção em suas manchas antes de identificá-las em outrem,falou!
Muito boa esta prosa poética!!!!
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