domingo, 30 de outubro de 2016

CyberSattwa

Do 7. E Ele te achou a vagar em busca D´Ele e Ele te guiou para o Si Próprio,
As Horas da Manhã [Al-Duhã] Alcorão
Causa, o sangue, o flagelo sobre a cidade [de Tebas].
Édipo Rei, Sófocles
a criança/ num salto/ vence a própria sombra, tempo de agir,
Sérgio Rubens Sossella 


Os alicerces da cultura ocidental nos ofertam
uma verdade tão efêmera quanto o brilho das
palhas de aço nos pipers dos vagalumes
que se agacham no mocado das esquinas.

Uma verdade com o aval da psicanálise
que promove a eternidade do desejo e a
impossibilidade humana da compreensão do Real.

São esses dogmas que sacralizam o consumo.

Enquanto cavo trincheiras por sobre o basalto,
meu raciosímio exercita-se
no decorrer desta peleja, fragmentada
pela mídia através dos noticiários.

Das cavernas das pluri espécies humanas à
urbe homo sapiens
ou do ambiente selvagem ao ambiente
controlado, enquanto perdia
seus predadores naturais, o gênero humano
tornou-se predador de si mesmo.

Teria sido Abel, neandertal?

Presa ou predador!

Eis o destino inexorável ao qual, para purgar ao
rei de Élida, Édipo vai ao encontro,
na estrada entre Tebas e Delfos.

Eis a psicopatologia derivada do exílio do
Jardim das Delícias,

o synthoma do banzo do paraíso perdido.

A maldição de Caim atinge o auge no
lançamento da bomba atômica
sobre Hiroshima e Nagasaki.

Em um suposto Princípio de Realidade
ontogênico da espécie humana
qualquer argumento que defenda a necessidade
imperiosa de armas atômicas
nos conduz à uma impossibilidade lógica.

Essa antinomia de opostos interiores, esse duplo
vínculo civilizatório ou duplipensar,
no vocabulário orwelliano, tem origem
a partir do frame mitológico da cisão da horda
hebraica, entre Moisés e Jeroboão,
a Lei e o totêmico. Entre o humano e o bestial.

Sob leis mosaicas, a civilização ocidental adora
aquilo que dá forma ao primogênito minotauro,
o bezerro de ouro.

a mega exploração e queima de combustíveis
a mega exploração dos recursos hídricos,
o uso desenfreado de agrotóxicos,
a destruição de ecossistemas.

O duplo Sapiens contemporâneo, enrodilhado num sheol
de quinquilharias virtuais, não decifra metáforas,
pois a modernidade nos fez espectadores desprovidos do espanto

Querubins guardam o leste do Éden com a lâmina flamejante
que oscila
para tornar inacessível a trilha que conduz à Árvore da Vida!

A integridade psíquica do humano reside no selvagem.

Reintegrar o selvagem é nosso dever e nossa salvação.


Ricardo Pozzo