a mosca pousou sobre o rosto
de um homem já morto. nem o morto
nem a mosca sabem – como nós sabemos,
e como! – que o homem está morto.
nem o morto nem a mosca sabem
o que é a morte, o que é a vida,
o que é o homem, o que é a mosca.
dormem as moscas? onde dormem e o que sonham?
não é fácil entender uma mosca,
seu motor antiquíssimo, seu terrível
hálito sem cheiro, a febrícula, a alegria maníaca
diante dos restos.
não é fácil entender, enquanto se vela,
a mosca que voa
do rosto baldio, a mesma que pousa
em cima deste canapé.
Rodrigo Madeira,
do livro O Latim das Moscas, ainda inédito