quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Ossatura IV

uma bela boca, que carne contra carne apela?
os ombros, que arqueiam ou esquadrinham?
e bundas, barrigas e pernas?
e volumes?
volúpia?
dispamos o pudor
que a gente existe é para revestir os ossos
até que a morte nos convide a despi-los

Luciana Cañete
http://deusdobravel.blogspot.com/

domingo, 19 de fevereiro de 2012

eletro urbe fagocitoz

Gigo, Gigo

.
o tempo se dobra
com humor vítreo
engole o cronômetro
cospe o rolex

há gnose livre pelo ar

o ontem que já foi amanhã
se despe atrás do biombo
como se fosse hoje

bendizemos o chronomancer
batemos os dedos
na pele de seu tambor
em leque

a gnose flutua
gueixa com pavões na seda
de sua face

entre oriente e ocidente
dançamos
com o conde de saint germain & nietzsche

o conde está morto
nietzsche está morto

bang bang bang
fotamecus

ocultista e filósofo
nos sorriem
com suas mandíbulas de pixel

perdemos a hora
na acústica de um flash

espectro de cabala

no ecrã do movimento
poliedro
dos moinhos

há um coringa
no baralho
paralelo & luminoso
dos instantes

subconsciente

com ele
imantamos o jogo do tempo

o colapso na asa de uma mosca volante
é a prece

garbage in, garbage out
amém
.

Andréia Carvalho
http://habitoescarlate.blogspot.com/

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Rua Emiliano Perneta - Curitiba

rua com nome de poeta, e todos os poetas são pernetas.
Eu tenho saudade de Curita; conheço bem essa rua e a atravessei milhares de vezes; saudade de atravessar cada rua daquela cidade como fosse a minha própria cidade!
Curitiba, tambem é Rio de Janeiro.

T.S.
a
branquérrima pele fina
sem pelo do hermafrodita
- ex-homiceta
ex-homigina
ex-laleska -
à POLAQUINHA TRAVECA de utilidade pública
- face fácil para a saliva espessa
do celibato.

Por qué seremos tan perversas, tan mezquinas
(tan derramadas, tan abiertas)
y abriremos la puerta de la calle al
monstruo que mora en las esquinas, o
sea el cielo como una explosión de vaselina
(...)
por qué seremos tan desparratadas, tan obesas
sorbiendo en lentas aspiraciones el zumo de las noches
peligrosas
tan entregadas, tan masoquistas, tan
(...)


Bianca Lafroy

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Rua Duque de Caxias - Largo da Ordem - Curitiba

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

o suspiro da chuva
angustia a manhã.

O sol não se percebe só
sabe da presença pura
e ácida lágrima
amarga da fábrica
sangue translucido da natura.

O pranto seco das mães estéreis
sonham filhos de almas recusadas
acefalia falando aos espíritos
todas as ausências de todas as cores
do sol negro da fábrica a germinar
pastagens de espumas em lagos sulfurosos
em cada fio de fumaça um fantasma
como aquela criança pálida coberta de pústulas
que brinca em sua margem.

O amanhã.

Wilson Roberto Nogueira

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

estudo mineral para uma jóia

carbono elíptico.
único.
puríssimo (a sujeira toda da vida).


                               modo artificial de fabricação:


                               a) carvão
                               b) brasa
                               c) cinzas
        
                               d) o cheiro feroz nas roupas


* a última clivagem é restar,
                                do cheiro feroz,
uma lembrança


2. 


in natura


a gema


(anterior às 58
facetas) não veio


das minas negras de angola
nem arfou nas mãos
de lapidários belgas.


não foi desentocada
meticulosamente das
entranhas da terra;
              
por cuspe de gêiser mais
que fundo de cava,
da entranha das entranhas
     
prorrompeu:
                    


                           3.                            


verruga de
diamante, rastro de lesma,
pingente: lágrima quase invisível
no pescoço infinito
da mulher


Rodrigo Madeira
http://rodrigo-madeira.blogspot.com/

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Centro Cívico - Curitiba

Urbe[m] Samsara

Escatológica cosmogonia
a cada quadra

Urbe[m] Samsara

que pouco você vê
re significada

a cada Cosmo [de]

subjetividade
individualizada!

Ricardo Pozzo

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Vila Capanema - Curitiba

Odd Man Out

A Mario Alberto Bautista

Bom. Agora escreverei as palavras para que você se entretenha com o exercício
de sublinhar.

Puncione a ferida no pulso esquerdo.

Vem do coração o sinal, a lenha, com a qual levarei ao ar este sinal
de fumaça.

Solidão amanhecida, manhã solitária, a sanha e nada nada nada nada.
Nada nada.
Nada nada nada nada nada.

Sublinhe a palavra que não corresponda:
nada nada nada nada nada nada tudo.

Sim, sublinhe tudo.
Circule o não circulável.

(O sinal.
A ferida futura no pulso esquerdo. Puncione).

Aqui eu fico.


Eduardo Hidalgo/ tradução Ricardo Pozzo

domingo, 5 de fevereiro de 2012


Incêndio da favela Moinho, região dos Campos Elíseos - São Paulo

Ao mendigo da Travessa da Lapa, que tirei do meio da rua por medo de que fosse pego pelo Biarticulado

Eu queria dizer que te respeito, camarada
Por ter lutado contra a servidão
Por escolher a pinga ao invés da enxada
Pela calçada à linha de produção

Emerson Peretti

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012


B.O.

contrabando 
operação pássaro de cinco asas


numa rápida e ligeira atuação da polícia federal, no centro histórico de curitiba, foram apreendidos cem quilos de argumentos falsificados, uma porrada de discursos retóricos vencidos, teses mal fundamentadas, estética parnasiana, um sofista perdido no tempo e mais dois intelectuais da área de ciências humanas com baixa produção acadêmica.



Giuliano Gimenez