para o niilimundo deste vacuotempo
e na posse de barack obama no youtube:
it’s my pleasure to introduce a unique musical performance
mr. itzhak perlman violinist
anthony mcgill clarinetist
yo-yo ma cellist
and gabriela montero pianist
performing air and simple gifts
a composition arranged for this occasion by john williams
notáveis músicos terceira via
pop top chords perlman e yo-yo ma
mcgill clarijazznetista bernstein-erudito
gabriela montero divinichavista das improvisações impossíveis
de el sistema de la orquestra juvenil simón bolívar
john williams milli grammy-oscares como válter disney
compositores-mores da kitchclássica música sinfoniúnica de hollywood
1 franco-chinês
2 israelo-estadunidense
3 mulher sul-americana
4 afro-descendente
5 composição tradicional
6 com arranjo w.a.s.p.
que diferença faz? ganhar dopado ou limpo
tocar por um playback ou dar concerto ao vivo?
nihil vanilli itzhak milli perlman dudamel barenboim
miles de niilis: unique musical performance for this occasion
a tese deste texto: no capitalismo do fim da história
a crescente contradição entre o desenvolvimento das forças produtivas
e as relações sociais de produção
tem na arte oficial do nada sua pulsão preferencial
É como se disséssemos:
Vamos trabalhar para resolver as carências humanas
e libertar a todos e todas do jugo do trabalho alienado?
E nos dissessem, Não, tem uma idéia melhor:
vamos construir um estádio gigantesco
e chamar 90 mil pessoas ao vivo
e dois bilhões pela televisão e um bilhão pela internet
para ver quem dá mais voltas em menos tempo
em torno de uma pista de atletismo!
Como se fosse, Vamos nos organizar e resolver as carência do tempo
para eliminar o trabalho alienado?
E nos dissessem, Não, tem uma idéia melhor
Vamos tocar violino, passar longos e penosos anos aprendendo
a tocar violino a dançar na ponta dos pés a ser virtuose em qualquer negócio
– Mas Por quê?
– Por quê? Porque, porque faz bem ao espííírito.
E sabe por que você é assim? Por que se sente
tão angustiado? Não é por causa do trabalho alienado é
porque você pratica pouco sexo, quem não transa com ninguém
não pode mesmo estar passando bem
Você está assim é porque não viaja!
Por que você não pega o carro ou passa
numa agência de turismo ou compra
uma passagem de avião ou entra
numa excursão e vai daqui até ali e volta!
– Mas por quê?
– Por quê? Porque, porque é liiindo.
O mundo há muito tempo está maduro
Forças produtivas suficientemente desenvolvidas
desde aquele espectro que rondava a Europa
O capitalismo intenta ser o fim da história
trava a roda da história não quer que as relações sociais sigam seu curso
Fukuyama diz que tudo acabou em 1806
– e quem sou eu pra desdizer de Fukuyama –
desde a 1ª metade do século 19 como frisa o Manifesto Comunista
o mundo é palco pleno para o socialismo
e desde então : história-nada , vacuotempo , cronoaniquilamento
forças produtivas que já têm o necessário
para superar o trabalho
mas este se mantém somente porque são ainda como são
as relações sociais de produção
e qual é então a arte que melhor se encaixa
neste vacuotempo niilimundo?
Beuys, Beuys, meus boys, ele é que entendeu a coisa
Beuys – a própria biografia um blefe
Pergunta Kant: isto é belo?
Mas depois de Beuys ninguém se espante se também se diz, pois isto é arte?
Feltros, gordura e feltros
How to Explain Pictures to a Dead Hare (1965)
horas com chapéu de veludo e luvas de boxe
a explicar destarte, cara lebre morta,
o porquê da morte desta nobre arte
I like America and America likes me (1974),
da Alemanha para cinco dias
junto de um coiote
na pequena sala da galeria
Rene Block em Nova York
à sombra das Torres Gêmeas que serão escombros
A Dokumenta de Kassel
O quilômetro vertical de Walter de Maria
um cabo com 1000 m de metal enfiados na terra
O apartamento cheio de areia que o mesmo de Maria
mantém em Manhattan, segundo se relata,
que precisa ser cuidado, aguado, a areia mantida saudável
e aquele alemão, hein, que enterrou um poste, não foi mesmo
e aquele outro que fotografou e arquivou os filmes nunca revelados, dizem
– isto é arte? – e da melhor qualidade
A explícita poética do nada de John Cage
“em 4’33’’ (1952)
um pianista entra no palco
toma a postura de quem vai tocar
e não toca nada
a música é feita pela tosse
o riso e os protestos do público
incapaz de curtir quatro minutos e alguns segundos de
silêncio”
Augusto de Campos, O anticrítico, p. 218
Beethoven, Mozart, Shakespeare, Camões não foram a seu tempo
em si mesmos arte-níquel expressão do nada
Corresponderam por exemplo à visão de mundo da aristocracia
ou da burguesia ascendente
ou da aristocracia que se queria parte do mundo burguês novidominante
ou ao modo cortesão de flertar as mulheres e
angariar favores nacionalistas do rei
O que quer que seja
eram a seu tempo formas de expressão de alguma qualquer coisa
A forma-mercadoria
contudo
esvazia seu sentido
Já não expressam nada mais de relevante
Portinari como piso para revestimento de interiores
Picasso como carro Citröen
Mozart for babies
A forma-mercadoria – totalidade
que se sobrepõe à idéia ingênua elitista enganosa aristocrática de arte
Para Keynes a arte em nosso tempo tem
a mesma função que a guerra:
destruir inutilizar paralisar forças produtivas
E se a arte já não cumpre mais
qualquer função efetiva de representação social
E se a arte é reduzida à mera função keynesiana
de imobilização de forças produtivas e entretenimento
E se ela tornou-se vazia de qualquer sentido real
Melhor é ir então direto ao ponto,
melhor fazermos logo Arte do Nada
Para que perder tempo anos e anos aprendendo violino
representando Shakespeare
ofícios cansativos e complexos
Melhor é fazer logo qualquer coisa, fazer o nada dá na mesma
o mote que o capitalismo of’rece à arte
se cumpre rigorosamente com a mesma sorte
seja pelo mais virtuoso dos malabaristas
seja pelo mais vistoso acaso artista-nada
Mas
se a arte de Beuys conceitual Arte-Nada
é a melhor representação do nosso tempo
– o Tempo do Nada do Fim da História –
também se torna cínica adesão ao sistema e se conforma
Ícone, duplo, interpretante do mundo do nada
passa pela prova de ser ela própria
o mesmo cínico signo nada
deste cronovácuo
niilitempo
o sentido da arte : seu caráter militante
cartazes de gustavot diaz → objetos que perseguem militância
sem isto trabalho e tédio
esclesiástico-haroldianamente névoa-nada e fome-vento:
confinados na opressão do trabalho
escravos das múltiplas formas deste nada que nos toma
À questão, pois:
Invertido seu sentido
todavia
a arte conceitual a arte-nada
dialeticamente seria a arte da transformação do tempo
a arte do nada-tudo,
do tudo pelo nada enfim liberto do nada que o comprime
Paulo Bearzoti Filho
poema extraído da Revista Panfleto! número 1