no limite da poesia
a palavra é sua canção.
ou um significar
que não significa
se não significar o som.
“silêncio”, por exemplo,
pede silêncio.
a palavra “pássaro” tem
o tatalar de asas dentro.
“sexo” é em si clandestina,
sussurrada pelos namorados
nas escadas e esquinas.
“jangada” é aquela
que vai, lenta,
levada pelo mar e pela brisa. etc.
não é o caso de “pulcra”.
apenas no dicionário
e na lapela do professor
“pulcra” é da elegância
a eruditíssima flor.
“pulcra”, dessas palavras
que significam em negação,
pois no interior de sua música
é fétida, repugnante,
em franca decomposição.
no limite da liberdade
as palavras, que voam
como aves selvagens
em seu próprio som,
estercam na calva
sisudez da semântica,
fazem pouco dos poleiros
da significação.
Rodrigo Madeira
* significante - ling/semiótica - complexo sonoro audível que encerra o significado do signo linguístico.
ResponderExcluirhá palavras que através da sonoridade encerram o seu significado,são em si mesmas música e semântica,independem do signo e dependem da melodia.
ResponderExcluirBelo poema,ótima a mensagem.
há um erro na primeira estrofe.
ResponderExcluirera pra ser
"ou um significar
que não significa
se não significar o som"
e a palavra final "significação" (significção) tem o tamanho de fonte das demais.