O tempo, as relações entre as pessoas, os títulos, as instituições foram ficando, se já não eram antes, esquisitos. Ou recebendo intervenções de esquisitice, até se tornarem outra coisa.
Só por exemplo, as gerações começaram a referir-se umas às outras em termos de estilo de vida da década posta em questão. Anos sessenta representavam um certo modo de vestir, pentear cabelos, portar-se em público. Anos vinte eram uma mistura de cortes de cabelo, adereços no pescoço ou nas golas, danças, tornozelos à mostra. Modernos, pós-modernos, beats, punks, hippies, rappers, outros exemplos da nova nomenclatura. Vestiam-se essas décadas. Atuava-se esses pareceres. Portava-se. Referendava-se. O passado próximo.
Tudo estava acontecendo ali mesmo, num sem-tempo, onde as pessoas tinham pressa de terminar o serviço. Pra tudo se tinha pressa. Pressa de comer devagar. E ninguém tinha tempo. De fazer. O que era certo.
Ao mesmo tempo, tratavam-se de desfazerem-se do passado com rapidez. Os paradoxos prolixos foram banidos da horda da classe. Por sua vez, isso afetava todo seu sistema. O Patrimônio, as coisas feitas bonitas e caprichadas, para onde teriam que ir? Serão ruínas? Ou recordações? Quem decide é quem fica e deve pensar também no porvir. As gerações parecem ter se esquecido que o homem é o ser que se sabe. Até onde lhe caiba saber. Tudo esbarra em algo mais sólido, ou melhor, em algo potente o suficiente para fazer contenção.
Até a vida e morte se esbarram. Mas a morte não faz contenção. A vida absorve a morte.
E para o tempo, as relações, os títulos, tudo havia, uma vida ocorria além de tudo que morria; esquisito o gosto de vida daquela morte.
Continua...
Maria José de Menezes